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Jose Carlos
Alma de um poeta
Textos
Lição de vida
Meados  de 1999, final de semana, nada melhor que reunir com a família para trocar idéias e tomar aquela cerveja gelada. Eu estava feliz com minha família, consegui adquirir minha casinha modesta, um carrinho para servir em meu trabalho e no lazer, sentia que a vida estava deixando de ser tão difícil, pois com um salário médio já era o suficiente para viver. Já que não precisava pagar aluguel, estava praticamente conquistada a independência, parecia ter tirado um grande peso das costas. Dona Solange muito rigorosa ajudava a controlar as coisas, já casada  há quase dez anos conhecia bem seu marido, e estava sempre contendo meus impulsos, que na maior parte das vezes eram irresponsáveis. Ela sempre teve às mãos o controle sob todos os aspectos. Duas filhas Regina e Regiane completaram a família, com todas as dificuldades estávamos conseguindo vencer os obstáculos do dia a dia.
Em um destes finais de semana, eu recebi uma proposta muito boa para fazer parte de uma sociedade e parar de trabalhar de empregado. Aquilo soou como musica em meus ouvidos, mais tarde ao me recolher em meus aposentos com minha esposa, toquei no assunto perguntando qual a opinião dela sobre o fato. Sem pestanejar ela de pronto me advertiu dos riscos que estaria correndo e não pensou duas vezes em deixar bem claro que era contra esta sociedade, mas deixou a meu critério a decisão final. Os dias se passaram e outras vezes me fora feita à proposta. Por ironia do destino começou a surgir alguns problemas internos na firma onde eu trabalhava, por parte da administração, e isto veio a prejudicar o relacionamento profissional, o que mais tarde veio a resultar no meu desligamento da empresa. Lá trabalhei como torneiro mecânico por três anos e mesmo estando saindo da empresa fui aconselhado a repensar o assunto, pois meus amigos e ex-patrão tinham-me muito apego, tanto pelo lado pessoal como pelo profissional. Mesmo assim o desligamento era inevitável e induzido pela situação, resolvi aceitar a proposta de fazer sociedade, mesmo com a imposição da esposa e dos amigos. O sócio entraria com a mão de obra, dividindo o lucro e as despesas, a possibilidade de trabalhar por conta própria pareceu à primeira vista uma saída para a crise que estávamos enfrentando.
O  sócio era proprietário de um galpão, que funcionava como oficina mecânica de caminhão, onde seria colocado o torno e funcionaria como oficina de manutenção, mas a área onde seria colocado o torno estava alugada para terceiros, e o sócio se viu impossibilitado de pedir o ponto por razões particulares. Isto nos obrigou a montar a oficina em outro local, isto viria mais tarde a nos provocar um grande prejuízo. No galpão  onde montamos o torno, tivemos que abrir mão da parte da solda que seria explorada pelo soldador que cedeu o galpão.
Compramos os materiais, as ferramentas e começamos a trabalhar. Como eu já estava em São Miguel do Araguaia há muitos anos, consegui  formar um bom quadro de clientes, mas ainda estava muito longe de conseguir obter competitividade no mercado isto por ter começado a trabalhar de forma errada. 50% do serviço ficavam com o dono do galpão, onde estava o torno  e os 50% ficava para custear as despesas, e o restante dividiríamos entre nós. O que se arrecadava não era o suficiente para cobrir as minhas despesas pessoais, mas por ter uma conta corrente e trabalhar com talão de cheque, ficou fácil  cobrir os débitos. Passaram-se 01 ano e as coisas ao invés de melhorar como se era esperado, começaram a se complicar, para fazer o acerto da firma tive que passar para sócio algumas ferramentas de precisão em forma de pagamento. E as minhas dívidas pessoais continuaram a rolar. Minha esposa por sua vez, vendo o que estava acontecendo, tentou alerta-me por varias vezes, na tentativa de retornar o controle da família. O que parecia poder ser a minha solução para conseguir uma vida digna e mais saudável, passou  a ser um tormento e a cada dia tornava mais difícil a convivência tanto no trabalho quanto em casa. Assim veio o primeiro desgosto, para pagar a divida com o banco, fui obrigado a vender meu carro, parece que as coisas começaram a desmoronar, começaram as cobranças por parte de credores, por parte da família que via que as coisas não estavam dando certo. O descontrole foi tanto que fui obrigado a vender minha própria casa, para não piorar ainda mais a situação.
Foi um golpe muito grande, tirar minha esposa e minhas filhas de dentro de casa, para pagar uma divida que não era delas, me senti o pior de todos os homens, só Deus sabe como isto doeu, apesar de tudo. Minha esposa esteve sempre ali, firme e não deixou de forma alguma transparecer e isto faz dela uma mulher de garra e de uma força de vontade extraordinária.
Ainda havia uma esperança de que as coisas viessem a melhorar, mas ficou só na esperança, o relacionamento entre eu e meu sócio começou a se abalar, eu não conseguia fazer com que o torno desse lucro, surgiu vários comentários que funcionavam como um nocaute; parece que o mundo veio abaixo, nesta hora vendo a realidade da vida dei-me por conta que em apenas dois anos perdi tudo que adquiri em 10 anos, de muito suor e dedicação.
É chegada a hora de encarar a realidade e admitir que é necessário sair deste barco e começar do zero novamente, lembrando sempre da família em primeiro lugar.
Hoje dona Solange trabalha na UEG como bibliotecária e esta estudando, se Deus quiser muito em breve ela estará com um curso superior e isto lhe trará bons frutos com certeza, no momento esta muito difícil para ela, mas todo este sacrifício vai valer à pena.
Novembro de 2001 eu e meu sócio chegamos  a conclusão que era necessário parar com a sociedade, não havia mais condições financeiras nem psicológicas  para continuar trabalhando, com o torno com problemas, foi imposto a mim que poderia desfazer a sociedade: desde que entregasse a maquina funcionando em perfeito estado, para quem perdera tudo o que tinha e só restavam dividas, o único jeito foi aceitar a imposição. Foi pedido um prazo ate final de dezembro para que se recebessem algumas notas que havia e colocara-se o fim em dois anos e alguns meses, onde sacrifiquei minha vida e a vida de minha família.
Minha mãe (Dona Lourdes) me socorreu financeiramente por varias vezes, como não era possível viajar para Minas ela veio ate Goiás, e nunca deixou de me dar apoio moral, estando sempre presente mesmo que distante; nuca deixou de acreditar, e com certeza ainda resta nela uma esperança que eu volte para Minas com minha família.
Senhor Gerson e Dona Tereza, segundo pai e segunda mãe,  tem tido um papel muito importante dando apoio e participando de minha vida. Dona Tereza, com suas orações e sua devoção, pede a Deus todos os dias para que ampare todos os seus filhos e que nunca deixe faltar nada. Senhor Gerson sempre bem disposto e sempre otimista, segue e ajuda seus filhos a seguirem em frente, como bom parceiro de canastra nunca enjeita um desafio.
Agora desempregado, penso em conseguir um emprego em minha cidade, São Miguel do Araguaia, trabalhar e resgatar pouco a pouco tudo o que ficou para trás, e dar um pouco de tranqüilidade para minha família, depois de tudo que sofremos juntos isto é o mínimo que eu poderia almejar. Não sei ainda qual será o meu destino, mas sei que  acreditamos em Deus e lutaremos com todas as forças para vencer os obstáculos que a vida nos impõe.
Estes dois anos de perca e muita desilusão ficara pelo resto da vida guardado em minha memória e servirá como exemplo, pois é corrigindo meus erros, que deixarei de vez a sombra do fracasso em minhas decisões, podendo assim conseguir obter prosperidade em minhas escolhas.
Esta é uma lição de vida que servirá como base em todas as minhas decisões, para que eu não cometa o mesmo erro que cometi, colocando minha família em uma situação delicada.
Procurando trabalhar com honestidade e procurando aperfeiçoar cada dia mais, com certeza realizaremos todos os nossos projetos e viveremos dias mais felizes, conquistando assim novos horizontes.

“Hoje, sete anos se passaram, prossegui com meus estudos e me formei em Gestão Pública pela UEG (Universidade Estadual de Goiás). Pretendo fazer pós-graduação, pois, é possível que eu participe da administração pública em minha cidade a partir do ano 2009. Melhorando meus conceitos poderei contribuir melhor para o desenvolvimento de São Miguel do Araguaia”.  
Zé Carlos
Enviado por Zé Carlos em 04/12/2008
Alterado em 04/12/2008
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